Teste Vocacional ou Orientação Profissional?

Teste Vocacional ou Orientação Profissional?
Teste Vocacional ou Orientação Profissional?

A ideia de ter que escolher algo para se fazer pelo resto da vida pode assustar. Eu sei. Neste momento da vida, muitos jovens entram em conflito e até mesmo em verdadeiro desespero diante de questões, desejos, anseios, sonhos e expectativas. Mas, calma. A tensão e o estresse só vão dificultar as coisas. Para a escolha de uma profissão é preciso ter clareza de pensamentos e conhecimento. Muito conhecimento. Primeiro de si mesmo e depois das possibilidades profissionais existentes no mundo atual.

Para ajudar nesta questão, existe o processo de orientação profissional, um aliado nessa busca por uma escolha mais consciente e tranquila da profissão. A questão é que, ainda hoje,  a orientação profissional é confundida e colocada no mesmo pacote dos chamados testes vocacionais. E, vejam só, não são a mesma coisa! Para explicar melhor o papel de cada um e suas funções, preparei este artigo. A intenção é esclarecer as dúvidas e desfazer possíveis nós. Te convido para acompanhar a leitura.

 

Teste vocacional: uma parte do todo

Tendo sido professor de Psicologia Social por tantos anos, ainda fico impressionado com a força que  os pensamentos possuem no senso comum. Geralmente, no campo da Psicologia Social, usamos o pensamento dialético para compreender a forma como crenças, preconceitos e estereótipos surgem e se mantém em uma determinada sociedade. Não é meu objetivo aqui entrar nos meandros teóricos da Psicologia Social, mas apenas observar como as crenças em torno do que se chama de “teste vocacional” ainda persistem em nosso imaginário apesar de todo o avanço que vemos e que coloca a área da orientação profissional como algo muito mais abrangente do que a mera testagem de interesses.

 

O teste vocacional e seu início no século XX

O termo “teste vocacional” surge bem nos primórdios da testagem psicológica, no início do século XX. Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, as Forças Armadas dos Estados Unidos perceberam que nem todos os soldados suportavam bem a violência do front de batalha, mas eles também observaram que estes mesmos soldados que não possuíam o perfil violento necessário para o front, possuíam habilidades que faziam com que eles pudessem prestar um excelente serviço em outras áreas como comunicação, logística, estratégia e muitas outras.

Coincidentemente, neste período, a psicologia diferencial estava se desenvolvendo a todo vapor, buscando formas de medir e avaliar as diferentes características psicológicas dos seres humanos. Medir e avaliar significava quantificar tais características usando testes psicológicos (que também estavam sendo desenvolvidos neste período). Neste contexto, vários programas de pós-graduação de universidades norte-americanas estavam interessados em desenvolver testes psicológicos, com o objetivo de permitir a comparação destas características.

Não demorou muito para que as Forças Armadas dos norte-americanos e as universidades em questão entrassem em contato. Várias parcerias foram firmadas: de um lado, o governo estadunidense financiou o desenvolvimento das pesquisas destas universidades que, em contrapartida, deveriam desenvolver testes capazes de identificar o perfil de cada soldado para que as forças armadas pudessem colocá-lo em alguma função compatível com seu perfil.

Como o processo de desenvolvimento de testes psicológicos é demorado, os testes prometidos pelas universidades não ficaram prontos a tempo para serem usados na Primeira Guerra. Mas este atraso foi ruim apenas para as forças armadas, pois as empresas especializadas em recrutamento e seleção e os orientadores educacionais logo viram o potencial destes testes que passaram a ser usados para o recrutamento de funcionários e para a orientação de estudantes quanto aos cursos superiores que eles poderiam cursar. Assim nascem os testes vocacionais!

 

Teste vocacional e a psicologia

Neste período, a pesquisa em psicologia era regida por um paradigma que privilegiava a qualificação em detrimento dos sentidos subjetivos e individuais. Assim, não existia o processo de orientação, tratava-se de pedir que o estudante respondesse aos testes e depois ele receberia os resultados, geralmente apontando que cursos ele teria aptidão para cursar. Esta forma de testagem perdura até hoje, eu mesmo já escutei de várias pessoas que elas tinham aptidão para fazer determinada faculdade em função de um teste vocacional que elas haviam respondido.

 

A evolução para a orientação profissional

De lá para cá muita coisa mudou, na década de 70 os questionamentos de Rodolfo Bohoslavsky e de Celso Ferreti já apontavam para a necessidade de um processo de Orientação Profissional que não fosse baseado em testes vocacionais, mas que privilegiasse ajudar o orientando a encontrar uma profissão que fizesse sentido dentro de sua história de vida, de seus valores, de suas expectativas relativas ao futuro, além de considerar os aspectos sociais envolvidos na escolha profissional. Para trabalhar com estes sentidos, não é viável para o profissional fundamentar seu trabalho apenas em testes vocacionais, trata-se de um processo de orientação, que vai ajudar o orientando a encontrar em si mesmo que projeto de futuro ele tem.

 

Objeto x sujeito na escolha

O que está em jogo nesta mudança de enfoque é o lugar conferido ao indivíduo que busca por orientação. Na perspectiva do teste vocacional, o indivíduo é visto como objeto passivo da orientação, aquele que deve ser medido e avaliado para que sejam reveladas suas características. Estas características o tornam apto para desempenhar uma ou outra profissão. Já na orientação profissional ou vocacional, o indivíduo que busca por orientação é visto como sujeito que se relaciona ativamente com sua história e com suas perspectivas de futuro. No contexto da orientação, não cabe ao orientador determinar quais profissões são compatíveis com o perfil de seu cliente, seu papel é o de facilitar o processo de autodescoberta do orientando de forma que este se reconheça como autor de suas escolhas e possa sentir-se identificado e responsável por elas.

 

E como eu atuo em minhas sessões?

Exatamente por acreditar na autonomia do sujeito, em meu trabalho como orientador, o teste vocacional se limita a uma etapa do processo de orientação profissional. Mesmo assim, procuro usá-los como recurso auxiliar na promoção do autoconhecimento, que considero a pedra fundamental do processo de orientação profissional.

Como profissional, escolho trabalhar na perspectiva da orientação vocacional, facilitando a compreensão dos sentidos subjetivos da história de vida de meus clientes e atuando junto a eles para facilitar a construção de uma relação com o futuro que servirá de base para sua  escolha da profissional. Acredito nesta proposta por entender que ela é a que mais respeita a autonomia do indivíduo e também é a que mais promove benefícios para seu desenvolvimento como ser humano.

Diante deste quadro que expus aqui, gostaria de te fazer um convite: ao procurar um profissional para auxiliar em sua escolha profissional, tente responder a seguinte pergunta: “Qual é o meu papel na escolha de minha profissão? Me vejo como objeto que deve ser avaliado ou como sujeito que é autor de minhas próprias escolhas?”. Respondendo a estas perguntas, você saberá qual é o profissional que poderá te ajudar melhor.
Gostou deste artigo? Espero que ele tenha clareado as ideias por aí! Para saber mais sobre orientação profissional e questões relacionadas à carreira, acesse o site Márcio Souza Coaching. Até mais!

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